Livro didático como alicerce de ensino nas escolas: será o fim da educação libertadora?


Nos últimos anos, a política de aquisição em massa de livros didáticos tem gerado intensas discussões no meio escolar, destacando-se o impacto da transformação da Educação em um grande negócio e a consequente oligopolização do setor educacional. Esse processo mobiliza quantias significativas de dinheiro público e envolve interesses diversos, afetando diretamente a sociedade, que confia seus filhos ao sistema educacional.

A problemática vai além dos critérios adotados para a escolha desses materiais. Muitas vezes, tais critérios não atendem às reais necessidades dos professores da Educação Básica, ignorando as opiniões desses profissionais e gerando controvérsias em torno da utilização dos livros didáticos.

Além disso, esses livros frequentemente se tornam o único recurso utilizado em sala de aula. Esse fato reflete as condições precárias de trabalho dos professores brasileiros, que, sem apoio, acabam desmotivados, sentindo-se excluídos do processo educativo. Tal cenário contribui para transformar o professor em um repetidor de conteúdos que muitas vezes não dialogam com a realidade local, enfraquecendo o papel do educador como mediador do aprendizado.

Essa abordagem tradicional é criticada por Paulo Freire, que, nos anos 60, denunciou a “Educação Bancária”, onde educandos são tratados como depositários de metodologias prontas e descontextualizadas. Nesse modelo, os saberes e experiências dos estudantes são desumanizados, comprometendo o potencial transformador da Educação.

Em contrapartida, a Educação Libertadora, proposta por Freire, defende um modelo problematizador que valoriza a essência humana dos educandos. Esse paradigma promove a compreensão crítica da realidade e a práxis, permitindo aos educandos perceberem seu papel no mundo e questionarem as condições em que vivem.

A prática de uma Educação Libertadora exige empenho contínuo dos professores na construção didática, respeitando o contexto e as vivências dos educandos. É um esforço permanente de desvelamento da realidade, possibilitando que os estudantes se posicionem de forma crítica e transformadora.

Diante disso, surge a reflexão: os pais que confiam a Educação de seus filhos exclusivamente aos livros didáticos querem saber o impacto desse modelo agora ou preferem esperar até que os resultados sejam irreversíveis? Fica o questionamento!

Cassiano Telles
Doutor em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria