Senhoras e senhores! Como é bom estar em casa, empoeirando meus pés de andarilha no chão sagrado onde meus ancestrais fizeram morada sobre uma linda campina de terras vermelhas e, nas margens de terras pretas do rio Uruguai. Filha das famílias pioneiras de Tucunduva e Novo Machado, italianos da colônia Santa Isabel, Colônia Alfredo Chaves, missioneiros de São Borja, São Miguel. Eu sou uma migrante, que fez dos símbolos e referências deste lugar, o lar em terras estrangeiras. Carrego os sabores e saberes da casa, o mate amargo com a velha matriarca, o fogo de chão no galpão, os nomes das ervas e plantas de benzeduras, o vento norte soprando e a saracura piando na caída do dia anunciando chuva, as libélulas avistando a estiagem, o barulho dos bugios ao adentrar das águas volumosas do rio Uruguai pela barrinha. Minhas vivências, os saberes recebidos, as crenças acumuladas, as coisas que vi, as pessoas com quem convivi, os sentimentos aflorados, os ruídos dos lugares e não-lugares, desenham-se em um amontoado de escritos, sobre as gentes, seus espaços, seus modos de vida, seus laços, o território. À Academia de Letras entrego o pergaminho com todos os manuscritos, visto-lhes de todos os olhares que desaguam no meu, de todas as vozes que são coro para a minha, das culturas que miscigenam meu jeito de ser, dos toques que trazem humanidade e vivacidade para continuar pelos meus caminhos. Estou honrada de ocupar a Cadeira n. 3, em referência e reconhecimento à trajetória e memória de Luiz Forigo, uma pessoa que compartilhou suas reflexões, saberes e práticas de cura com as gentes do noroeste do Rio Grande do Sul. Que a imortalidade que nos conduz salvaguarde nossa história, cultura e identidade.

Tucunduva, 09 de junho de 2020.